Narcóticos Anônimos volta a Bela Vista e convida interessados em se manter limpos

Com quase 70 anos de existência e presente no Brasil há mais de 40 anos, a Narcóticos Anônimos (NA) está novamente em Bela Vista do Paraíso. Uma sala na parte superior do prédio do Centro Cultural, em Santa Margarida, é o espaço onde os adictos que queiram se manter longe das drogas já podem se reunir todas as quartas-feiras, a partir das 19h30.

A cidade havia ficado sem nenhum grupo de NA depois do fechamento do ‘Juntos Podemos’, que realizava as reuniões todas as quintas-feiras, na Paróquia São João Batista, no centro da cidade.

De forma anônima, os participantes vão seguir o modelo de 12 passos da NA. As reuniões regulares servem para que os membros ajudem uns aos outros a se manter limpos. Sem cobrar taxas ou matrículas, o grupo se mantém de forma independente. Inclusive, não aceita ajudas externas. A NA também não está ligada a partidos políticos ou instituições religiosas.

O grupo bela-vistense, que recebeu o nome de ‘Serenidade’, foi montado a partir da iniciativa de Geferson Marques, de 31 anos, com apoio de participantes de outras cidades. Morador de Bela Vista, Geferson era usuário de drogas e chegou a passar por internamento. Foi com a Narcóticos Anônimos, da qual participa há quatro anos, que conseguiu se manter longe do vício.

Ele conta que algumas pessoas lhe perguntavam como ele estava conseguindo se manter limpo, mas os horários e as distância do grupo de NA mais próximo, em Londrina, eram inviáveis para a participação de algumas pessoas que trabalham. “Então eu conversei com o pessoal de Londrina e eles acharam muito interessante trazer um grupo para Bela Vista”, afirma.

As reuniões acontecem às quartas-feiras, a partir das 19h30, no Centro Cultural, em Santa Margarida. Foto: Filipe Muniz

AS REUNIÕES

Segundo o organizador, o trabalho da NA é transformar a maneira de viver, e os grupos são voltados para qualquer usuário de qualquer tipo de droga. “Qualquer substância que altera a mente e o humor é considerada como droga. O adicto é aquele que se tornou escravo de uma substância química. No caso de muitos, a vida já não tem sentido. Tudo é feito em função do uso. Eu vou trabalhar para ganhar dinheiro pra usar drogas, vou mentir para minha família, depois vou vender o que tem em casa, depois roubar para manter o vício”, relata Geferson.

No contexto das reuniões, o anonimato é muito importante. “Tudo o que a gente fala e ouve aqui, morre aqui. É o que chamamos de nosso lixo, né. Joga o lixo para fora que alivia”, afirma. Também não há perfil preferencial na NA. Por isso, para participar basta a vontade de parar de usar drogas. Aliás, isso é primordial, segundo Geferson: “Não adianta vir por ordem judicial, ou da família, é para a pessoa que realmente tem desejo de parar”.

De acordo com o ex-adicto, a maior dificuldade encontrada por aqueles que querem deixar de usar drogas é pedir ajuda. “Depois de algum tempo, as pessoas acabam não confiando mais”. O apoio da família também é envolvido no grupo, já que são realizadas reuniões abertas, com a presença dos familiares, a cada mês.

Além de ser um exemplo do que pode ser atingido com ajuda da Narcóticos Anônimos, Geferson também já viu casos ainda mais graves. Por exemplo, o de pessoas que perderam empresas e todo o dinheiro por causa do vício. Os participantes ganham um chaveiro diferente de acordo com o tempo em que estão limpos. O primeiro, de cor branca, é chamado de ‘Só por Hoje’. “Tem membros que estão limpos há 20 anos e carregam o ‘Só por Hoje’. Quer dizer, hoje eu não usei e não vou usar. Hoje é o dia mais importante”, conta ele, afirmando que os 12 passos são uma prática diária.